Astrologia Humanista

         Até o início do século passado, a Astrologia ainda mantinha um caráter eminentemente preditivo, onde o foco de atenção da se voltava aos eventos que ocorriam na vida de uma pessoa de modo aparentemente independente de sua vontade.
Por volta do ano de 1930, surge uma abordagem que hoje conhecemos como astrologia humanista, através do trabalho de Dane Rudhyar, astrólogo francês, radicado no Estado Unidos, profundamente influenciado pela produção teórica da Psicologia do começo do século XX, a partir do seu contato com as então modernas teorias psicológicas, em especial com a Psicologia Humanista de Wiliam James e Abraham Maslow e, também muito influenciado por elementos da Psicologia profunda ou complexa de C.G. Jung.  
Nesta abordagem da astrologia, o evento, o fato, deixam de ser o foco da questão. A ênfase é colocada mais na pessoa, ou melhor ainda, no universo interior desta pessoa, do que no acontecimento, mais na experiência do que no evento. Este modo de olhar para a Astrologia enfatiza que as pessoas acontecem para os fatos e, o que realmente importa não são os eventos em si, mas sim a vivência das pessoas, a experiência pela qual passa um indivíduo ao vivenciar determinado evento. E, é importante ressaltar, experiências e acontecimentos são coisas bem distintas: experiência, mais do que aquilo que acontece com ou para o indivíduo, é aquilo que se vivencia a partir do acontecido.
         Para exemplificar a diferença entre as duas abordagens da Astrologia, tomemos como exemplo um aspecto entre Marte e Urano: na leitura mais tradicional de uma carta natal tende-se a “prever” que acontecerá acidentes com máquinas – como se fossem as máquinas as causadoras do acidente; em abordagem humanista, no entanto, o que se pode dizer é que essa pessoa tem tendência a se arriscar e a romper limites, e por esse motivo ela obviamente tem mais chances de se acidentar do que alguém que não possui tal característica. Na segunda visão, é a maneira como a pessoa maneja as máquinas que a põe em risco, e não as máquinas que agem de maneira a ameaçá-la, ou seja, foi o indivíduo que forjou o fato.  Em uma leitura preditiva, a pessoa é colocada como mera vítima dos fatos ou, invertendo a perspectiva, pode-se colocar os fatos como uma conseqüência do modo de operação dessa pessoa.
         As ações de uma pessoa tendem a satisfazer as necessidades de seu universo interior, espelhado no universo exterior representado pela Astrologia, originárias de seu próprio inconsciente. A astrologia deve ser utilizada para facilitar a descoberta destas necessidades profundas, devolvendo ao indivíduo as condições necessárias para realizar escolhas conscientes mais adequadas entre as múltiplas alternativas de manifestação de cada momento. Em outras palavras, a astrologia deveria servir como recurso para devolver ao ser humano a possibilidade de exercer seu livre arbítrio a partir do entendimento de quais conteúdos inconscientes efetivamente dirigem o seu comportamento a cada momento e por toda a vida!
A astrologia vista sob um ponto de vista mais amplo tem a função de indicar e mostrar o movimento, o ritmo, a ordem, que nos dá um sentido e um significado. Quando a olhamos sob um ponto de vista humanista, mais do que uma orientação de vida, ela dá o significado de uma vida particular, individual.
Devemos entender a carta natal como uma representação dos potenciais que nos são próprios, sem a pretensão de tentar buscar através dela algo que não é de nossa natureza, que não signifique para nós ou ainda mais, algo que não vai fazer com que signifiquemos para o mundo. A psicologia humanista está muito mais preocupada com o que há de potencial criativo no ser humano do que em corrigir “defeitos”.
Tentamos esconder os “problemas” e “defeitos”, enfim, o que é negativo. Relegamos ao inconsciente escuro e oculto, sempre pronto a afetar o nosso consciente que julgamos claro e iluminado. Esses supostos problemas podem ser identificados na carta natal e a única maneira de “retirar” o escuro de algum lugar é iluminando – não é possível cortar a escuridão aos pedaços e recolhe-la em baldes.  De uma maneira simbólica “tirar” o escuro é colocar luz, quer dizer que, para nos tornarmos mais claros e saudáveis, devemos nos focar nas nossas iluminadas potencialidades, que, se desenvolvidas adequadamente podem iluminar os trechos mais escuros de nosso caminho.
Muitas de nossas percepções e sentimentos estão soterrados pelas limitações do meio e isso nos impede de desenvolver potencialidades importantes. É uma necessidade humana manifestar sua a identidade, seu eu manifesto, através das realizações pessoais. A análise astrológica com uma leitura humanista deve ajudar no entendimento daquilo que temos potencial de manifestar.
Nós, naturalmente, sentimos e percebemos nossas tendências pessoais, mas, pela lente de um mapa natal, que nos fala de coisas com as quais nos identificamos, os sentimentos e percepções são traduzidos em uma linguagem simbólica. A simbolização age como um fator organizador que nos confirma o que pode ser aperfeiçoado e quais são as tendências antagônicas que podem apresentar dificuldades. Tais oposições indicam os dilemas básicos de cada um, mas a insatisfação e a angústia gerada por tais conflitos é o que nos movimenta e possibilita nosso crescimento. A própria resolução desses conflitos faz com que haja evolução e progresso.  
A carta natal por falar de um organismo vivo (que nasce, cresce e morre) tem um desenvolvimento natural em si. Representa um ciclo. Não podemos pular etapas e fases. As casas mostram o caminho a ser percorrido do início ao fim da vida. Elas são opostas e complementares. Os eixos estão definidos entre as casas angulares.
 Existe um andamento em nossa vida e podemos nos orientar através da astrologia. A carta natal pode ser entendida como um mapa do caminho a ser percorrido entre a primeira e a última respiração.
Não existe nenhum poder na carta natal, a Astrologia não está na ordem do divino. O divino é quando pensamos em como que o ser que está representado no mapa natal vai realizar esta representação de si. Não podemos saber como uma pessoa vai desenvolver o potencial que delineado na carta natal, mas apenas como está organizada sua estrutura de identidade. Qual será a reação do indivíduo ou como ele vai lidar com as dificuldades ou facilidades de sua carta natal, é algo que o mapa natal não pode nos informar.
A astrologia tem uma série de símbolos que orientam a pessoa na relação do macrocosmos com o seu microcosmos, dando a essa uma noção de pertencimento. É uma linguagem que fala de um todo, do qual somos uma parcela. Como um princípio que deve permear todas as ciências humanas, ela tem a função de orientar os seres humanos.
A carta natal traduz energias que operam dentro de nós e o que é necessário para que estas se manifestem de maneira saudável. Se ficarmos em uma situação de natureza muito diferente de nossas energias básicas teremos problemas. Se uma pessoa de essência libriana ficar muito tempo em atividade que implique embate e agressividade, que exija muita afirmação e imposição do ego, ela pode ficar desenergizada, a desequilibrará muito; já se uma essência ariana ficar em uma situação constante de calma, sem começar coisas novas e sem enfrentamento haverá um desequilíbrio, pois haverá confronto com sua natureza básica. Se há algum tipo de desequilíbrio em razão de operar em um padrão muito diferente do que seria natural, a carta natal pode ajudar nesse entendimento.

4 comentários:

  1. Boa noite
    Tudo bem?
    Onde consigo livro ou curso online sobre Astrologias. Humanista

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  2. Olá, poderia indicar um curso de Astrologia Humanista. Grata

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  3. Olá! Gostei muito do seu texto.Vou continuar a ler mais textos....

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  4. Excelente texto. Esclareceu muitas dúvidas.

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